O Espíritismo e a Reecarnação

E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo, assim também Cristo, oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o esperam para a salvação” (Hb 9.27-28). 


No seu livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, pseudônimo de Hyppolyte Léon Denizart Rivail, não fez qualquer comentário à passagem acima. Mas o seu livro não trata apenas dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João? Não. Ele comentou os livros de Atos, a Carta aos Romanos, Primeira aos Coríntios, Êxodo e Deuteronômio. Referido versículo tem sido usado amiúde pelos cristãos evangélicos para refutar a crença da reencarnação. Fica fortalecida a suspeita de que Kardec pinçou ao seu bel-prazer os versículos a serem comentados, isto é, os que ofereceriam maior facilidade de serem interpretados sob a ótica do espiritismo. Em razão dessa lacuna, compete aos kardecistas que se autodenominam cristãos esclarecerem de forma pormenorizada e objetiva onde, e de que forma o versículo sob análise não contradiz a reencarnação.Aos homens está ordenado morrerem uma só vezÉ evidente que a morte anunciada não abrange a parte imaterial do homem (o espírito), que é imortal. O argumento de que o versículo se refere ao corpo, que morre só uma vez, não convence. A morte corporal foi instituída por Deus já no Jardim do Éden, após a queda do primeiro casal: “No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, porquanto és pó e em pó te tornarás.” (Gn 3.19). Desnecessário seria afirmar, 70 anos depois de Cristo, que o corpo desce à sepultura. Isto é o óbvio. Hebreus 9.27 tem significado muito mais elevado. Se a referência fosse apenas ao corpo, seria uma repetição de Gênesis 3.19. Ademais, o corpo poderia morrer mais de uma vez? A Palavra afirma que a parte imaterial do homem se aparta do corpo apenas uma vez; que o homem (corpo e espírito) experimenta a morte uma única vez; que a separação corpo-espírito, isto é, a morte, dá-se somente uma vez. Ora, tal ensino está diametralmente oposto ao do espiritismo. Neste, o homem morre várias vezes, o corpo se aparta do espírito várias vezes numa esdrúxula situação em que um mesmo espírito possui vários corpos, que, nessa visão antibíblica, servem apenas de trampolim para o aperfeiçoamento dos espíritos. Ora, o cristianismo ensina que somos templo do Espírito Santo e que a redenção em Cristo abrange o corpo. Vejamos o que Deus fala: “Não sabeis que o nosso corpo é santuário do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus e que não sois de vós mesmo ?” (1 Co 6.19); “Aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo Jesus vivificará também os vossos corpos mortais, pelo Espírito que em vós habita” (Rm 8.11); “Nós aguardamos a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23); O corpo é para o Senhor; ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, também nos ressuscitará pelo seu poder”: (1 Co 6.13-14). Portanto, para o cristianismo o corpo não é uma parte desprezível como deseja o espiritismo. Assim como Cristo venceu a morte, pela ressurreição, nós venceremos (1 Co 15.52-54). “Vindo, depois disso, o juízo” Ora, o corpo sepultado não será julgado, isoladamente. Deus não julga o pó; julga o homem. Daí o enunciado referir-se ao homem. E quando falamos em HOMEM falamos em corpo alma e espírito. Logo, para ser julgado, o homem se recompõe, a alma e o espírito volta ao corpo, exatamente como aconteceu com Jesus. Dá-se o nome de RESSURREIÇÃO a essa recomposição. Vejam: “Os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro” (1 Ts 4.16). “Sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele (1 Jo 3.2b). O Juízo se estabelece logo após a morte. O espírito segue para o repouso em Cristo ou para o tormento sem Cristo (Lc 16.19-31), como conseqüência do caminho escolhido, em vida, pelo homem (Mt 7.13-14; Jo 3.18). O corpo aguardará o dia da ressurreição. Os crentes em Jesus ressuscitarão em glória (1 Ts 4.16); os ímpios ressuscitarão muito tempo depois para serem (corpo alma e espírito) lançados no inferno (Ap 20.5,15; 21.8). Em síntese: “Vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a Sua voz [a do Senhor] e sairão. Os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida, e os que praticaram o mal, para a ressurreição da condenação” (Jo 5.28-29). Segundo os “espíritos” de Kardec, Juízo é algo inexistente ou indefinido. Vejam a questão 331 e 332 do Livro dos Espíritos: Pergunta: “Todos os espíritos se preocupam com sua reencarnação? Resposta: Alguns há que não se preocupam absolutamente, pois nem mesmo a compreendem. Isto depende de sua natureza mais ou menos adiantada. Para alguns a incerteza do futuro constitui uma punição”. Pergunta: “Pode o espírito abreviar ou retardar o momento de reencarnar-se? Resposta: Pode abreviá-lo, chamando-o por seus votos; também pode retardá-lo recuando ante a prova, pois entre os espíritos há os covardes e indiferentes. Não o faz, entretanto, impunemente: sofre com isso, assim como alguém que recusa o remédio salutar que poderá curá-lo”. É o tipo da situação em que ninguém manda em ninguém. Se a prova é difícil, o desencarnado recua. Está claro que se a prova é boa, ele aceita imediatamente. Hitler gostaria muito de voltar a ser comandante de uma poderosa nação, com um grande exército, com um arsenal atômico à sua disposição. Mas ser agricultor no sertão do Ceará, nem pensar. E onde estaria Deus? Deus ficaria de braços cruzados aguardando a boa vontade dos espíritos?Assim também Cristo, oferecendo-se uma vez...” Note-se a similaridade de nossa morte única com a de Cristo, que, encarnado, viveu como homem, e morreu uma vez somente. Para o espiritismo, Jesus é um Bom Espírito que alcançou elevado grau de perfeição, tendo reencarnado para ensinar aos homens uma elevada moral. Em nenhum momento, todavia, Jesus falou de suas vidas passadas. Ele, o Filho, a Segunda Pessoa da Trindade, teve apenas uma vida corpórea, e essa vida Ele ofereceu por nós (Jo 3.16). “Aparecerá segunda vez” Não encontrei no Livro dos Espíritos ou no Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, qualquer referência à volta de Jesus, como dito em 1 Tessalonicenses 4.16-17, Mateus 24.30-31, Atos 1.11, 2 Tessalonicenses 1.7, 1 Coríntios 15.23,52, Apocalipse 22.20. Mais trabalho para os espíritas “cristãos”. Como afirma o kardecismo, Jesus foi a Segunda Revelação de Deus, e o espiritismo, a Terceira e última (E.S.E., cap. I, item 6). Pergunta-se: o que viria fazer na Terra uma Revelação já substituída, que já cumpriu sua missão? Jesus não retornaria? A Palavra é mentirosa? Somente os versículos analisados por Kardec no seu livro são verdadeiros? O que é verdade, o que é mentira na Bíblia? Kardec responde: “No cristianismo encontram-se todas as verdades. São de origem humana os erros que nele se enraizaram” (E.S.E, cap. VI, item 5). Realmente são de origem humana as heresias e extravagâncias teológicas e tudo que é contrário à sã doutrina.

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